15 December 2005

Um riso é sempre o eco dum lamento

Bom...amor atrás de amor que já nos sentimos gastos... mais: com tanta tatuagem e cicatriz já não nos sentimos de ninguém. Mas que importa? Somos egoístas, o nosso sentimento prevalece: Importa-nos a nós. Sentir que não são nossos (sentir que não es meu), sentir que andamos com um "amor emprestado"... que nunca se entregará, nunca será nosso... amor?! "Amar é abrir a alma". E quando ela já nos foi roubada e usada pela vida? (Ou nem roubada, porque aí teria que ter sido nossa primeiro) O que resta, senão um coração ressequido, que bate por hábito...? Que alma é esta, que anda vazia, dentro de um corpo- quantas vezes sofrido, adorado- agora exilado e envolto em correntes vagas, que nada amarram, só o seu próprio peso. Porque já passou. Já foi, já correu como um relógio de areia em que vai tudo a descer, a correr fernéticamente em conjunto e para junto dos outros grãos de areia, construindo uma coisa una, imensa! Como fazer para fazer subir a areia, senão voltando o relógio? Como fazer para inverter a gravidade? Como virar o relógio?! Como duplicar uma vida? Se metade dela foi intensa, boa, sobram apenas... restos... um coração que não pertence, uma alma vazia, uma vida gasta... como enchê-la? Como ressuscitá-la?
Queria ter aparecido primeiro, nascido antes, ou vivido mais cedo, não queria nada pela metade...
Divertes-me, mas eu não te divirto; não conseguindo me divertir por consequência. Tamanha a impotência!

A vida
É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo <>,
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!

Florbela Espanca

2 Comments:

Blogger Mary Lamb said...

E a Florbela... espanca? Este é daqueles trocadilhos que eu adoro...Os amores...São tramados! Mas esse cabrão pôe-nos um sorriso na cara, e ficamos presas a ele! É doce ter um amor, mesmo que dure muito pouco...

12:25 PM  
Anonymous Anonymous said...

um riso é sempre um eco de um lamento...
eu acredito nisso.

9:09 PM  

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