Miguel Arroz escreve ao Expresso
> Exmo. Sr. Paulo Querido
> Exmo. Sr. Vitor Rainho
>
> Foi com alguma perplexidade e tristeza que li o texto escrito por
> Paulo Querido, na Unica de 20 de Janeiro, intitulado "Apple: O lado
> mau do sucesso". Desde confusão entre o que são produtos, serviços e
> marcas, até mesmo o incentivo à ilegalidade, passando por graves erros
> técnicos, encontrei de tudo um pouco ao longo da leitura deste artigo.
> Envio assim este e-mail, com uma análise ao referido artigo, realçando
> as incorrecções mais graves que encontrei, na esperança do seu autor
> publicar um novo artigo que esclareça os seus leitores.
>
> No primeiro parágrafo pode ler-se "A loja de musica ''online'' que
> ancora o iPod, a iTunes, (...)". O iTunes é efectivamente o nome do
> software de leitura, gestão e compra de música que a Apple
> disponibiliza para download e instalação em computadores que corram o
> Mac OS X ou o MS Windows. O nome correcto da loja é a iTunes Music
> Store. Na frase seguinte, encontra-se a expressao "Este duplo êxito da
> Macintosh (...)". Macintosh e' a linha de computadores da Apple, nao é
> nenhuma empresa. Nao faz sentido dizer "a Macintosh" neste contexto.
>
> Mais à frente, quando se fala da substituição dos CPUs PowerPC
> pelos Intel, existe uma série de incorrecções graves:
>
> - Diz o sr. Paulo Querido que o novo processador foi "produzido
> propositadamente pela Intel - e naturalmente compatível com os
> Pentium". Ora, o chip nao foi produzido propositadamente pela Intel
> para ser utilizado pela Apple, é apenas a evolução natural da linha de
> CPUs da empresa. Mesmo antes da Apple mostrar os seus novos Macs com
> CPU Intel, já pelo menos um fabricante de PCs tinha anunciado
> notebooks com o mesmo CPU. Alem disso a expressão "compatível com os
> Pentium" nao é completamente correcta, dado que fica a ideia que o
> novo chip é algo totalmente diferente, e que tem como característica a
> compatibilidade com a linha Pentium. O que realmente se passa é que o
> processador é apenas mais um na linha x86 - e, naturalmente,
> compatível com todos os anteriores, tal como a Intel já nos habituou.
>
> - O parágrafo que se segue é o de maior gravidade do artigo.
> Consta nele que "Em termos práticos, isto significa a abertura
> instantânea do colossal mercado dos PCs domésticos à Apple. (...) a
> partir da mudança é possível comprar qualquer PC e instalar o Mac OS
> X. Ou até instalá-lo no actual computador, substituindo o Windows."
> Qualquer pesquisa em sites da especialidade, assim como da EULA da
> Apple, mostra que o sr. Paulo Querido descreve, com a maior das
> leviandades, algo que não só é tecnicamente muito complicado, como,
> pior que tudo, ilegal. O Mac OS X pode ser executado apenas em
> máquinas Apple. Em termos legais, a EULA é claríssima nesse aspecto,
> não deixando margem para dúvidas. Em termos técnicos, a Apple
> implementou uma série de mecanismos de protecção que impedem a
> execução do sistema em qualquer máquina não-Apple. Existem maneiras de
> os contornar, mas são tudo menos triviais, e geralmente quebram sempre
> que sai um update de sistema. Acho gravissimo uma publicação de renome
> como o Expresso publicar um artigo com uma incorrecção tão grosseira
> como esta, podendo mesmo ter levado leitores a adquirir o Mac OS X ou,
> pior ainda, um PC novo de modo a poder correr o sistema da Apple.
>
> - Pouco depois diz-se que "A grande maioria [dos utilizadores
> actuais de Mac] estava descontente com o facto de o mais potente Mac
> da actualidade ter um desempenho equivalente à geração anterior de
> Pentium", seguido de um desabafo de um designer, cujo conhecimento
> tecnico é, no minimo, uma incógnita. Uma pesquisa, mesmo que
> superficial, aos sites de Internet com testes já realizados a Macs com
> CPU Intel leva a concluir que isto é, de facto, falso. Mesmo
> comparando com um PowerMac com dois cores G5, a esmagadora maioria das
> tarefas testadas sao mais lentas no Mac Intel do que nesse PowerMac.
> Se compararmos, de facto, com "o mais potente Mac da actualidade", o
> Quad G5 (4 Cores G5), aí nao ha sequer margem para duvidas. Mais uma
> afirmação escrita com demasiada leviandade pelo sr.
> Paulo Querido, que constitui uma incorrecção que eu não esperava ver
> num artigo de um jornal como o Expresso. Acrescento ainda que a
> característica mais realçada pela própria Intel em relação a este CPU
> é, não a velocidade, mas a relação "Power per watt", ou seja, a
> relação entre o consumo e a performance obtida. Nesse campo, segundo
> testes feitos por sites e empresas de renome, o CPU da Intel bate
> todos os records. Em velocidade, isso nao e' verdade.
>
> - Pode encontrar-se mais uma incorrecção na frase "A substituição
> do G5 pelo Intel Core Duo ocorrerá em todas as linhas da Apple e será
> rápida." Incorrecções essas que se devem ao facto de algumas linhas
> actuais da Apple (Mac mini e iBook) utilizarem o CPU G4, e não G5, e
> também à enorme probabilidade dessas mesmas linhas virem a usar o
> Intel Core Solo, e nao o Duo, dado serem as linhas de entrada de gama.
>
> Quanto ao resto do artigo, em que se descreve o fenómeno da
> massificação da Apple ter como consequência a redução do nível de
> segurança do sistema, desculpar-me-á o Paulo Querido, mas não passa de
> pura e simples especulação. E explico-lhe porquê:
>
> - A segurança depende fundamentalmente da qualidade do produto, e
> não da sua popularidade. O Mac OS X, após a instalação, tem todos os
> serviços de rede fechados, sendo, de facto, invulnerável a ataques
> pela rede. Este é apenas um exemplo. Existem outros, que me vou
> escusar a descrever. Compare isto com o Windows, em que, imediatamente
> após a instalação do sistema (com o CD oficial da
> Microsoft) o computador pode ficar imediatamente contaminado, no caso
> de estar ligado a uma rede onde existem outras máquinas infectadas.
> Não, não é especulação, já vi acontecer, e sei que já aconteceu a
> colegas de profissão que, inadvertidamente, se esqueceram de desligar
> o cabo de rede durante a instalação - algo que, no mundo Mac,
> considera-se patético. E isto não tem nada a ver com a popularidade -
> é praticamente impossível atacar um sistema operativo pela rede que
> tenha todos os serviços fechados. A única possibilidade é encontrar
> uma vulnerabilidade no stack TCP/IP, coisa que, dada a herança de BSD
> do Mac OS X, é muito pouco provável que aconteça.
>
> - No caso de ainda não estar convencido, dou-lhe um exemplo
> concreto que deita abaixo por completo a sua teoria. O servidor web
> apache, open source, incluindo na maioria dos sistemas UNIX (incluindo
> o Mac OS X) é o mais utilizado na Internet, com uma quota de mais de
> 50%. No entanto, o número de vulnerabilidades e furos de segurança é
> consideravelmente inferior aos do IIS da Microsoft, que tem uma quota
> de mercado bem mais reduzida.
>
> Termino assim, apelando para que o sr. Paulo Querido se informe, de
> forma mais aprofundada, sobre os temas que expõe, assim como ao
> sentido crítico e mesmo de responsabilidade jornalística dos editores
> do Expresso, que não devem deixar artigos deste calibre mancharem a
> boa imagem que o Expresso tem junto do público Português.
>
> Com os melhores cumprimentos
>
> Miguel Arroz
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